top of page

Por que o Grêmio Estudantil do IFMA Campus Monte Castelo chama-se "Edson Luís"?

  • geelifma
  • 3 de nov. de 2013
  • 5 min de leitura

Confira a matéria do Correio da Manhã, publicada no dia 29 de março de 1968, um dia após a morte do estudante secundarista paraense Edson Luís:

“A preparação de uma passeata de protesto, que se realizaria hoje, contra o mau funcionamento do restaurante do Calabouço, cujas obras ainda não terminaram, foi a causa da invasão daquele estabelecimento, por choques da Polícia Militar, e que resultou no massacre de alunos e na morte do estudante Edson Luís Lima Souto, assassinado com um tiro de pistola calibre 45, pelo tenente Alcindo Costa, que comandava o Batalhão Motorizado da PM do local.Os estudantes foram surpreendidos com a invasão policial, tendo os soldados disparado rajadas de metralhadoras enquanto o tenente que comandava o choque gritava pelo megafone “parem de atirar, eu não dei ordem para ninguém atirar”. Logo depois, o mesmo oficial sacou sua arma e fêz os disparos, um dos quais atingiu Edson Luís Lima Souto. O corpo de Edson ainda foi levado para a Santa Casa, na Rua da Misericórdia. Ali, o médico Luís Carlos Sá Fortes Pinheiro anunciou que o aluno já estava morto. Seus colegas, em seguida, levaram-no para o saguão da Assembléia Legislativa, onde se formou uma fila de populares para velar o corpo, em meio a violentos discursos de vários líderes políticos. O massacre policial continuou após a morte de Edson Luís Lima Souto e outros estudantes e curiosos foram feridos por estilhaços de granadas e bombas de gás lacrimogêneo indistintamente. (…)" (Parte 1).


“Estudantes reuniram-se, ontem, no Calabouço, para protestar contra as precárias condições de higiene do seu restaurante. Protesto justo e correto. O Correio da Manhã, nesta mesma página, já condenou a inércia em que o Estado vem-se mantendo diante das reiteradas reivindicações estudantis. Apesar da legitimidade do protesto estudantil, a Polícia Militar decidiu intervir. E o fêz à bala. Há um estudante (18 anos) morto, um outro (20 anos) em estado gravíssimo. Um porteiro do INPS, que passava perto do Calabouço, também tombou morto. Um cidadão que, na Rua General Justo, assistia, da janela de seus escritório, ao selvagem atentado, recebeu um tiro na bôca. Êste o saldo da noite de ontem. Não agiu a Polícia Militar como força pública. Agiu como bando de assassinos. Diante desta evidência cessa tôda discussão sôbre se os estudantes tinham ou não razão – e tinham. E cessam os debates porque fomos colocados ante uma cena de selvageria que só pela sua própria brutalidade se explica.


Atirando contra jovens desarmados, atirando a êsmo, ensandecida pelo desejo de oferecer à cidade apenas mais um festival de sangue e morte, a Polícia Militar conseguiu coroar, com êsse assassinato coletivo, a sua ação, inspirada na violência e só na violência. Barbárie e covardia foram a tônica bestial de sua ação, ontem. O ato de depredação do restaurande pelos policiais, após a fuzilaria e a chacina, é o atestado que a Polícia Militar passou a si própria, de que sua intervenção não obedeceu a outro propósito senão o de implantar o terror na Guanabara. Diante de tudo isto, depois de tudo isto, é possível ainda discutir alguma coisa? Não, e não. (…)” Correio da Manhã, 29 de março de 1968.

No dia 28 de março, os estudantes estavam organizando uma passeata relâmpago para protestar contra o alto preço da comida servida no Calabouço. A Polícia Militar, que outras vezes já havia reprimido os estudantes no local, chegou ao restaurante. A primeira investida da polícia conseguiu dispersar os cerca de 600 manifestantes, que se abrigaram dentro do Calabouço. Porém, os estudantes reagiram com paus e pedras, o que fez a polícia recuar.


Os policiais voltaram com maior violência, dessa vez atirando contra os estudantes e invadiram o restaurante. Na invasão cinco estudantes ficaram feridos e dois foram mortos pela polícia. Um foi Benedito Frazão Dutra, que morreu no hospital, o outro foi Edson, que levou um tiro covarde no peito à queima-roupa de uma arma calibre 45. Os companheiros de Edson não permitiram que a PM levasse o corpo do estudante com medo de que sumisse com ele. Os estudantes, então, partiram em passeata até a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, onde foi velado o corpo. O velório foi cercado pela PM e agentes do DOPS que provocavam os manifestantes com bombas de gás.


Conheça a história completa do dia que ficou marcado na história brasileira de lutas sociais:

No dia do enterro, 50 mil pessoas saíram às ruas para protestar contra a repressão do regime militar. A palavra de ordem que se espalhou em faixas, cartazes e na boca dos manifestantes era "Mataram um estudante. Podia ser seu filho!". Os militares, sem condições de reprimir a manifestação, tentaram escondê-la. As luzes da cidade não foram acesas naquele fim de tarde, mas mesmo assim os motoristas acendiam os faróis dos carros, comerciantes davam velas e lanternas para a população continuar o cortejo.


A camisa manchada com o sangue de Edson tornou-se o símbolo da repressão e foi carregada pelos estudantes.


Na semana que separou o enterro da missa de sétimo dia de Edson, manifestações foram organizadas em todo o país. Em São Paulo, quatro mil estudantes fizeram uma manifestação na Faculdade de Medicina da USP. Em Goiás e no Distrito Federal, estudantes foram baleados em protestos, sendo que dois foram mortos.


Na missa, que aconteceu na manhã do dia 4 de abril na Igreja da Candelária, as pessoas que lotaram a igreja foram reprimidas com violência pela cavalaria da polícia com golpes de sabre quando saíam. Dezenas de pessoas ficaram feridas. Outra missa estava marcada para o mesmo dia à noite. O governo proibiu sua realização, mas mesmo assim insistiu-se em fazê-la pelo vigário-geral do Rio de Janeiro, D. Castro Pinto.



A celebração reuniu cerca de 600 pessoas e dessa vez a Polícia Militar preparara uma repressão ainda pior. Do lado de fora da igreja havia três fileiras de soldados a cavalo com os sabres prontos para serem usados, um Corpo de Fuzileiros Navais mais atrás e vários agentes do DOPS. Os padres pediram para que ninguém saísse da igreja, já que todos previam um novo massacre. Os clérigos, então, saíram na frente de mãos dadas e fizeram um corredor entre os policiais e os que saíam da igreja, para que não fossem atacados pela polícia. A medida evitou o massacre ali, mas a Polícia Militar esperou que todos os manifestantes saíssem para que fossem encurralados nas ruas da Candelária. Novamente foram dezenas de pessoas feridas.


A morte de Edson Luís foi um dos marcos da radicalização da luta contra os militares que tomou conta do ano de 1968. Em junho, ocorreu a passeata dos cem mil no Rio de Janeiro, que lotou o centro da cidade.


As mobilizações contra o regime militar foram tomando proporções cada vez mais radicais, assim como a repressão foi se intensificando. Até que, em 13 de dezembro, foi decretado o Ato Institucional no 5 (AI-5), endurecendo o regime, como única maneira de controlar a situação.


O ano de 1968 foi revolucionário no mundo todo, marcado pelas revoltas estudantis e da luta contra a ditadura apoiada pelos EUA no Brasil e nos outros países da América Latina. As burguesias latino-americanas, financiadas pelo imperialismo, lançaram mão de ditaduras com características fascistas para reprimir e esmagar as mobilizações estudantis e operárias que se multiplicavam. Conseguiram o feito graças também à falta de ação dos partidos comunistas stalinistas que assistiram passivos tanto ao levante popular como aos golpes militares que serviram para esmagar o ímpeto revolucionário das massas latino-americanas.

(Adaptado de http://www.pco.org.br/movimento-estudantil/ha-40-anos-edson-luis-era-assassinado-pela-ditadura/aje,e.html)

 
 
 

コメント


bottom of page